quarta-feira, 17 de outubro de 2007

A campinas que ambientalistas sonhavam.

A Campinas que o Toninho sonhava. Ainda há tempo?

Biologicamente, os humanos são classificados como a espécie Homo sapiens (latim para homem sábio, homem racional), um primata bípede pertencente à superfamília Hominoidea juntamente com outros símios.

O mundo se depara hoje com as manchetes de jornal que alardeiam para muito breve
o fim de espécies e a transformação de nosso maravilhoso planeta no inferno. Sim, aquele inferno citado pela bíblia, do fogo incendiando os corpos, o calor da seca e a fome. E este pecado cometido pela ações do Homem sobre a natureza não foi citado nos 10 mandamentos. Nunca sequer foi falado pelos pregadores religiosos e políticos. E poucos foram os pais que ensinaram seus filhos, como os índios o faziam, a respeitar os seres vivos, ser a voz na defesa dos mais fracos e lembrá-los que a terra que nos acolhia deveria ser mantida como a recebemos .

Muitos ambientalistas fizeram muito por esta cidade e desistiram pelo caminho como o Major Pedro Beraldo, Condorcet Aranha, João Pégoraro, Walmir Geraldi e sócios abnegados da associação protetora da Diversidade das espécies - PROESP que desde sua fundação em 1977 combatem a degradação ambiental nas suas várias formas de luta. Hoje assistimos um movimento ambientalista enfraquecido e desmobilizado causado em parte pela impunidade dos crimes ambientais que são cometidos ad nauseam pela região toda.

Quando hoje, o caos ambiental pelas mudanças climáticas deu um alerta para o mundo. E então lembramos do Toninho, um ambientalista que não desistiu, lembramos da esperança de uma Campinas saudável ambientalmente que ele nos trouxe com sua eleição. Seu primeiro ato, logo que assumiu, foi participar de uma reunião no CONDEPACC , conselho que ele ajudou a construir e tornar respeitável, e solicitar o tombamento e a conservação de nossos últimos remanescentes de mata atlântica e cerrado. Ele levou todos os conselheiros para um passeio pela periferia, para a visitação das lagoas do Capivari, da mata Santa Terezinha e da mata Santa Genebra e sua frágil área brejosa. Como uma meta já estabelecida em sua vida, o Toninho tirou das gavetas o Plano Gestor da APA de Souzas - Joaquim Egídio e o transformou em lei usando seu poder de prefeito para tal urgência. Deu novamente plenos poderes ao COMDEMA que estava inativo e sobretudo deu vida e aparelhou com técnicos competentes a Secretaria de Meio Ambiente da cidade, que passou a agir especificamente dentro de suas funções. O viveiro da prefeitura reacendeu-se em estufas floridas e funcionários destinados para o plantio de milhares de mudas de árvores nativas. Com sua morte encerrou-se um sonho dos ambientalistas de assistir finalmente o desenvolvimento de uma cidade com planejamento para o futuro. Desde então nenhuma outra conquista foi consolidada.

Atualmente, todas as matas campineiras inventariadas estão em estudo de processo para tombamento, mas esquecidas nos escaninhos da Coordenadoria do setor patrimonial do CONDEPACC, conselho que não mais funciona como corpo ativo da democracia participativa. Nossas matas estão em profundo processo de desaparecimento pelo efeito de borda causado pela poluição e pelas diversas pressões geradas pelo adensamento urbano nas suas envoltórias, sem nenhuma fiscalização estadual ou municipal.

Nossa biodiversidade faunística sofre uma queda brusca e muitos animais já foram extintos localmente ou estão ameaçados de desaparecer da região devido aos efeitos da caça, do tráfico e da destruição e impacto das ações humanas no seu habitat .

Os bairros jardins, que deveriam estar protegidos pelo tombamento para amenizar os efeitos dos fenômenos climáticos das ilhas de calor e de grande importância para a permeabilidade do solo e resgate da paisagem nas regiões centrais, foram excluídas do plano de um gerenciamento racional .

O que devemos fazer agora para minimizar o impacto do aquecimento global em uma cidade onde seus habitantes encaram as árvores como pragas que sujam as calçadas e os carros com suas folhas? O que fazer para que o poder municipal assuma a defesa da arborização e crie novos parques e jardins com árvores e áreas permeáveis? O que fazer para conter a sanha devoradora do poderio econômico que constroem sobre áreas ambientalmente frágeis com a complacência dos organismos públicos poluindo nosso solo, nossa água e nosso ar? Como fazer com uma frota de veículos que cresce assustadoramente todo ano e provoca o chamado efeito estufa com o acúmulo de gases como o dióxido de carbono (CO2) e metano na atmosfera?

São perguntas difíceis de responder, mas se não nos mobilizarmos agora e mudarmos nossa atitude – pacífica, perante ao caos que se avizinha – mais rapidamente legaremos aos nosso descendentes uma terra que não será mais esta que usufruímos agora até a última gota. Chega de sermos apenas consumidores. Temos agora que voltar a ser cidadão.

Que cada um cumpra com sua parte, mas sabemos que precisamos acima de tudo, neste momento, dos poderes constituídos, principalmente do Poder Judiciário, a quem cabe a defesa do nosso patrimônio ambiental.

Marcia Corrêa

Presidente da Associação Protetora da Diversidade das espécies -PROESP

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